EMBAIXADORES DA MARÉ

Quatro jovens moradores da Maré são protagonistas na busca por melhorias do saneamento básico

Reportagem: Vinicius Lopes
Edição: Fred Di Giacomo
Ilustrações: Nícolas Noel

Durante 4 meses  moradores de diferentes favelas da Maré se empenharam em registrar queixas de saneamento básico nas 16 favelas do complexo. Alguns dos problemas mais comuns são esgoto a céu aberto, bueiros entupidos, acúmulo de lixo e entulho nas ruas e alagamentos — problemas históricos na Maré e que seguem sem previsão de melhorias. 

Essa ação é coordenada pelo Cocôzap, uma tecnologia social da organização data_labe, que tem como objetivo gerar dados sobre saneamento básico nas 16 favelas da Maré; do Conjunto Esperança ao Marcílio Dias. 

O Cocôzap funciona com um número no aplicativo Whatsapp, no qual os moradores podem enviar queixas relatando os problemas de saneamento que assolam o território. Apesar dos diversos problemas com saneamento que os moradores conhecem bem, percebe-se que os dados dominantes não representam a realidade da Maré. Por isso o Cocôzap recolhe queixas de saneamento, que entram em uma base de dados do projeto para que possam, futuramente, ser utilizados para reivindicar os direitos dos moradores. 

Além da geração de dados, o Cocôzap também atua em frentes de educação ambiental e incidência política, promovendo o Encontro de Saneamento da Maré em parceria com o Maré Verde/Redes da Maré, que busca levantar o debate e mostrar a importância de se falar sobre saneamento básico na Maré. Nas últimas quatro edições dos encontros, para além da participação dos moradores, já rolou a presença da Comlurb, Cedae, Ministério Público do Rio de Janeiro e outros especialistas no assunto.

Protagonismo dos jovens

Conhecidos como “Embaixadores Cocôzap”, o time da primeira fase foi formado por quatro jovens, responsáveis por recolher queixas sobre saneamento em quatro grupos de favelas, que foram escolhidas a partir da relação dos participantes com esses locais. Os embaixadores são moradores das favelas da Maré, que rodam pelo território desde que nasceram, e por isso conhecem bem como a falta de saneamento pode afetar a vida das pessoas. Já na segunda fase do projeto, que está em vigor, os embaixadores vão retornar aos pontos onde encontraram essas queixas e averiguar como andam os problemas – foram resolvidos? Quando? Por quem?

O direito ao saneamento básico e seguro é um direito constitucional pela lei 11.445/2007, além de ser um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável pela ONU, que também resguarda a todos o direito à água e ao saneamento, independente de raça, gênero ou CEP. 

Porém, infelizmente, esse direito não é respeitado nas favelas. Os embaixadores do Cocôzap registraram, entre abril e o início de setembro, 223 queixas de saneamento básico. A maioria das reclamações está relacionada a problemas de esgoto, seguida por acúmulo de lixo e entulho. A favela com mais queixas de saneamento básico até o momento foi a Baixa do Sapateiro, com 36 queixas, enquanto o Conjunto Esperança registrou a menor quantidade, com apenas duas queixas. 

Está com problema de saneamento perto de casa? Manda pra gente! Você pode enviar pelo whatsapp (21) 99957-3216 ou para um dos quatro jovens abaixo:

Quem são os “Embaixadores Cocôzap’?

Matheus

Matheus Albuquerque tem 21 anos, é nascido e criado na Nova Holanda e é estudante de Sistemas de Informação na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Entre as análises de dados e a fotografia, Matheus encontra um tempo para se dedicar às questões de saneamento da Maré, como afirma: “Tenho me tornado mais crítico em relação a problemas de saneamento que são visíveis e recorrentes em nossas comunidades, mas que no geral tratamos como normal por convivermos com eles, justamente pela falta do exercício dos nossos direitos.”. 

Elenice

Elenice Lopes tem 38 anos, nascida e criada no Parque Maré e atualmente moradora do Conjunto Esperança, é cozinheira de mão cheia e atua como embaixadora nas comunidades Vila do João, Salsa e Merengue, Vila dos Pinheiros e Conjunto Esperança. Para Elenice, um dos maiores aprendizados foi perceber as desigualdades dentro do próprio território; “Com o passar do tempo fui entendendo mais o que é saneamento, e nessas caminhadas eu tenho visto como é gritante a diferença de um lugar para o outro. Tem lugares que os moradores sofrem muito mais com o lixo e o esgoto nas ruas”.

Wanderson

Wanderson Lira tem 28 anos, cria da Roquete Pinto, é engenheiro ambiental e aspirante a engenheiro de dados. Além de trabalhar com projetos socioambientais na Maré, ele atua como estagiário de análise de dados na Petrobras. Dentro do Cocôzap, Wanderson é responsável pelas comunidades Roquete Pinto, Piscinão de Ramos e Marcílio Dias, e já percebe alguns efeitos do seu trabalho: “Já vejo uma movimentação da comunidade para resolver alguns problemas que registrei. Pude acompanhar, por exemplo, uma obra de reparação de esgoto que já estava presente ali há meses.”

Juliana

Juliana Machado tem 28 anos, é nascida e criada no Morro do Timbau. Pedagoga por formação, atualmente faz parte da coordenação do Luta Pela Paz e é mobilizadora territorial em pautas de juventude e meio ambiente. Dentro do Cocôzap, é responsável pelo mapeamento do Morro do Timbau, Baixa do Sapateiro, Conjunto Bento Ribeiro Dantas e Nova Maré. Juliana tem uma grande esperança: “Espero encontrar menos problemas nas próximas rotas, pois isso reflete em qualidade de vida aos moradores da Maré, que já enfrentam muitas outras batalhas em suas vidas.”

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