ORGULHO DA FAVELA

Mulheres trans e travestis são maioria entre bissexuais que moram em favelas do Rio de Janeiro. Pesquisa mapeou acesso de pessoas LGBTI+ a políticas de segurança pública, educação, entre outros direitos.

Reportagem: Redação data_labe
Entrevista: Inna Meirelles
Dados: Samantha Reis
Arte: Nicolas Noel

“Tenho uma memória afetiva de estar no carro de um tio e observar uma garota passar na rua e ficar admirada com a beleza dela; no final da mesma rua tinha um menino muito lindo também, fiquei encantada. Eu era pequena, mas naquele dia soube que eu tinha algo de ‘diferente’”.

A lembrança da infância ainda está fresca na memória da artista Eva Paredes. Hoje, a jovem de 24 anos avalia como a percepção das pessoas em geral ainda era “muito monossexual naquela época e que nem sabia que existia bissexualidade”. Os dados demonstram, no entanto, como o entendimento sobre a sexualidade ficou mais evidente. 

Cerca de 20% das pessoas que moram em favelas do Rio de Janeiro são bissexuais, e as mulheres transgênero e travestis compõem a maior parte deste grupo. É o que apontam os dados do 1º Dossiê Anual do Observatório de Violências LGBTI+ em Favelas, publicado em 2023 pelo Conexão G. O levantamento entrevistou aproximadamente 1,7 mil pessoas de mais de 90 favelas sobre temas como educação, saúde, segurança pública e emprego.

Para Eva, a experiência de ser uma travesti bissexual na favela é complexa. “Não posso falar por todas as travestis, são realidades diferentes. Quando transicionei deixei de ficar com pessoas cisgêneras, e não havia muitas pessoas trans na minha favela, então me relacionava com pessoas trans de outras favelas”, conta. 

Se a sociedade pode ser violenta com as pessoas que não se enquadram em seus “padrões”, tal experiência é ainda mais frequente no dia a dia de pessoas trans. “Na relação que estou hoje, casada com um transmasculino preto hormonizado com mastectomia, [as pessoas] nos olham como ‘o bicho e o maluco’ porque eu sou uma ‘aberração’ na visão cisgenera e meu companheiro, lido como cis, é um louco por estar me assumindo”, avalia.

foto: Guga Ferreira

Foi na arte que Eva encontrou mais uma forma de celebrar sua identidade e sua sexualidade. Além de atuar no ramo da fotografia e do audiovisual, ela também é uma liderança na cultura ballroom do Rio de Janeiro.

Estudo corpos como o meu em movimento e construção constantes através do tempo e do espaço. Na cultura [ballroom] consigo filmar e destacar esses corpos, para que elus se vejam, consigam se expor socialmente e ser espalhados pelo mundo digital, explica.

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