ARTE COMO FERRAMENTA
DE ACESSIBILIDADE

Faz-se necessário, neste momento, pensar que a acessibilidade não é concebida como um conjunto de ações que teriam como meta proporcionar o alcance a um conhecimento ou informação a priori, mas como criação de condições para a produção de múltiplos sentidos na experiência com a arte.
Camila Alves, autora de “E se experimentássemos mais?”

Fomos inspirados pelo trabalho de conclusão de curso na graduação em Psicologia da especialista em acessibilidade Camila Alves, mulher branca com deficiência visual. Presente em um dos encontros da residência sobre o tema, Camila defende a “experimentação estética como uma dimensão ética e política de se fazer acessibilidade e, dessa maneira, produzir novas possibilidades de vida com a arte dentro e fora do museu”.

Para o nosso trabalho – que tem como um dos pilares a comunicação de dados -, o design é uma ferramenta de uso cotidiano e, por isso, se configurou como uma um braço da experimentação da arte para a acessibilidade. Então, retomamos os dados do Caged para elaborar o direcionamento para nossos processos de produção. 

Etapas para produção de gráficos acessíveis

1. Leitura da imagem
Extrair o que precisa ser comunicado no gráfico de barras escolhido;

2. Elaborar uma metodologia
Definir quais técnicas do design serão utilizadas na criação de um gráfico acessível ao consumo;

3. Manter a nossa identidade
Não é por ser um gráfico que ele precisa ser “careta”. O dado pode ser apresentado com elementos do repertório do público que apoiem a compreensão da informação de forma interessante e atrativa.

Para o exercício escolhemos o gráfico de Trabalhadores com deficiência por raça e faixa salarial.

1. Leitura da Imagem
O grupo decidiu falar sobre as categorias raça/cor branca e negra, cuja representação era mais significativa em comparação com a raça/cor amarela e indígena. A turma observou ainda que apesar de as pessoas negras serem  maioria entre os trabalhadores empregados, são os brancos que ganham as remunerações mais elevadas, acima de dois salários mínimos.

2. Metodologia
Para esta etapa, nos baseamos nas lições apresentadas por Cole Nussbaumer Knaflic, no livro “Storytelling com Dados”.

1. Entenda o contexto 
Quem é o seu público? O que você quer que ele saiba? Como ele pode fazer isso?
Essas três perguntas ajudam a entender de que forma a informação precisa ser apresentada e entendida para que a ideia seja palpável ao público. 

2. Escolha um visual eficaz
É importante definir quais tipos de gráficos podem contar melhor a história.
>> Gráficos de linha são ótimos para contar unidades de tempo;
>> Gráfico de barras, sejam eles horizontais ou verticais, permitem comparações rápidas;
>> Gráficos de pizza funcionam melhor para comparar somente duas variáveis; 
>> Gráficos 3D podem deturpar a realidade do tamanho.

3. Elimine a saturação
Isso significa dispensar tudo o que possa pesar a capacidade do cérebro de absorver informações visuais. Considere os princípios da Gestalt, teoria que estuda a percepção humana em relação à imagem. Não economize nos espaços em branco para “respiro”, teste contrastes de cor e lembre que a diagramação visual segue uma ordem do que é mais importante para o que é menos importante. 

4. Focalize 
Manter a atenção do público direcionada para o que precisa ser contado é o principal objetivo, portanto o tamanho dos textos e elementos visuais precisam estar adequados. Torne grande tudo o que importa, use as cores de forma moderada, uniforme e atenta às pessoas com daltonismo ou hipersensibilidade. Vale testar o equilíbrio das cores com o aplicativo CV Simulator, por exemplo.

5. Pense como um designer 
Existem conceitos básicos que podem ser utilizados, como realçar o que é mais importante com negrito, itálico, sublinhado ou grifado, usar letras maiúsculas ou fontes específicas. Crie uma hierarquia clara para as informações e elimine distrações que não acrescentem à história principal.

Abrimos um programa de edição e colocamos em prática esses cinco passos no gráfico sobre diferença salarial por raça entre trabalhadores com deficiência, como consta na imagem abaixo. Para editar, você pode usar o Inkscape, que é um software aberto.

3. Identidade - A metodologia data_labe: Como criamos visualizações com a nossa cara

Números e gráficos tendem a causar um afastamento do nosso público que, a priori, já julga que são “difíceis demais de entender”. Nossa missão de democratizar o acesso ao conhecimento passa por trabalhar com linguagens plurais e acessíveis que contemplem o repertório cultural de pessoas de favelas e periferias como nós. Então, vamos te contar como fazemos isso. 

Passo 1 – Faça um quadro de referências
O famoso “moodboard”, como costuma ser chamado nas agências de criação, nada mais é do que um quadro no qual são reunidas referências coletadas na internet ou recortadas de revistas, como nos tempos da escola. O importante é organizar elementos que compõem o universo visual do tema a ser retratado. 

Nós usamos o Jamboard, do Google, para armazenar imagens sobre deficiência, raça, cor, mundo do trabalho. 

Passo 2 – Experimente apresentar o dado com os elementos coletados
A turma selecionou uma mesa de escritório para situar o leitor quanto ao ambiente corporativo. Os dados são apresentados em um currículo. O contratante carimba de modo taxativo e incorreto o termo “pessoa deficiente”, quando o correto é “pessoa com deficiência”, numa forma de demonstrar que o mercado considera menos as aptidões e mais o capacitismo.

Após a criação feita em aula, a equipe de design fez novas alterações, com o objetivo de tornar o material mais acessível. Observamos uma desproporção entre os elementos visuais utilizados, como os clips e as mãos do contratante, bem como um excesso de informações que distraíam a informação principal que era o gráfico de barras. Também buscamos apresentar todos os números por raça/cor para que o leitor tivesse acesso à quantidade completa de informações. A versão final, reproduzida abaixo, foi publicada nas redes sociais do data_labe, no contexto do Dia do Trabalhador de 2023.

Arte com dados, dados com arte

No capítulo 2 contamos a proposta da Residência Dados Acessíveis de usar a arte como estratégia de experimentação para aprender a elaborar conteúdos mais acessíveis. Além deste ebook, a formação culminaria numa exposição, na qual as artistas residentes poderiam exibir as peças artísticas acessíveis. 

Nesta etapa, acionamos referências de Arte Disruptiva, com o objetivo de inspirar o grupo a partir dos trabalhos de outros artistas. Voltamos às vanguardas europeias (que conhecemos lá no Ensino Médio), cujos materiais e técnicas de pintura fizeram oposição à arte acadêmica, contrapondo o alto rigor estético e moral com sua característica expressividade. Passamos ainda pelas problemáticas dessas vanguardas, que exaltavam uma perspectiva militarista, nacionalista e até machista, como o Futurismo e a exotificação de culturas do Sul Global, a exemplo do uso de máscaras africanas no Cubismo. 

Já no Brasil, discutimos o Movimento Neoconcreto carioca no fim dos anos 50, cuja perspectiva mais experimental e subjetiva da arte se diferenciava do Concretismo nada emocional e duro da arte paulista divulgada alguns anos antes.

Incorporamos à observação produções de jovens artistas contemporâneos, para discutir as múltiplas possibilidades de criação na arte que utilizam diferentes suportes, técnicas e temas que aproximam a arte da vida.

Em “Degrees of Deaf Rage While Travelling”, a artista surda Christine Sun Kim, cria visualizações a partir de experiências de desconforto que vivenciou em diferentes situações da vida, no exemplo acima, os graus de raiva surda enquanto viaja.

“Plantações de Traveco para a Eternidade”, de Ventura Profana, é resultado de diferentes técnicas com foco na instalação. A obra aborda a realidade de ser travesti e o cruzamento com a experiência de crescer em uma família evangélica pentecostal.

Em “Plic, Plic, Plic – São onomatopeias que eu consigo enxergar o som”, de Bruno Vital, olhamos para a possibilidade da técnica da assemblagem, colagem e desenho como possibilidade artística. É a partir delas que Bruno conta sua experiência como pessoa surda no mundo.

A exposição Presenças se propôs a provocar uma experiência multissensorial e acessível sobre o lugar da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, a partir da perspectiva de cada artista residente. Depois de quase dois meses de atividades na formação, as alunas e a equipe tinham o desafio de concretizar ideias e experimentações em peças artísticas que transmitissem ao público a jornada de aprendizado coletivo e ainda inspirassem outras pessoas a pensar essa arte acessível, que tem a PCD no centro.

Arte acessível não é novidade, obviamente, e por isso bebemos em muitas fontes que contribuíram para a nossa produção.

>>> Encontro online com Duda Emerick
Duda compartilhou sua experiência como mediadora no Museu da Vida e no Museu do Amanhã, nos quais fez muitas propostas de acessibilidade. Ela atua no projeto “Entre Museus Acessíveis”, que incentiva pessoas com deficiência visual ou auditiva a frequentarem os museus. Mulher branca com deficiência, Duda ressaltou os limites da audiodescrição, já que é feita por pessoas sem deficiência para PCDs, e apresentou exemplos de obras que exploram outros sentidos, como paladar e tato. 

>>> Visita ao Museu do Amanhã com mediação
Nos juntamos ao grupo de pesquisa Perceber Sem Ver, do departamento de Psicologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) para uma visita ao Museu, mediada pela Duda Emerick. Olfato, tato, audição e visão foram explorados durante a contação de histórias e a relação com os objetos, a fim de que a singularidade de cada deficiência fosse atendida. Percebemos que a mediação não deve ser informacional, e sim experimental. Assim, cada pessoa tem liberdade de ser impactada pelas obras. 

>> Papo com a equipe de facilitação do Galpão Bela Maré
Era pra ser uma visita técnica, na qual nós avaliaríamos a melhor maneira de utilizar o espaço. Porém, se tornou numa oportunidade de aprender como a equipe do Bela Maré recebe a diversidade de pessoas que frequentam e visitam o galpão. Aplicamos tudo no processo de elaboração da facilitação, que vamos destrinchar ainda neste capítulo.

Com cerca de um mês disponível para as etapas de pré-produção e a produção das obras, organizamos duplas de trabalho. Cada residente teria um facilitador para garantir a execução e entrega com um orçamento de R$1500 para cada uma. Caberia à dupla definir formato, roteiro, materiais necessários, fornecedores, orçamento, audiodescrição da obra, enfim tudo. As equipes de produção e de comunicação apoiaram as compras, os registros do processo e a correção dos textos. 

Confira abaixo o processo e o resultado de cada obra.

A aptidão não escolhe corpo, obra de Andreia Meireles

“Eu queria falar sobre as experiências capacitistas que eu vivi em processos seletivos. Os entrevistadores já partem do pressuposto de que você não vai dar conta de desempenhar a função, dar conta das tarefas por ser uma pessoa com deficiência. Falta uma sensibilidade sobre as ferramentas de acessibilidade que já existem e que podem ser adotadas pelas empresas”.

Andreia Meireles, artista residente

Como uma mulher negra com baixa visão, Andreia buscou denunciar, constranger e provocar a mudança de olhar de uma suposta “falta de habilidade da pessoa com deficiência” para assumir um cargo para as estruturas capacitistas e preconceituosas da sociedade. 

Esse jogo de inverter valores e percepções foi desenvolvido num formato de esquete, na qual Andreia interpretaria a entrevistadora, e a atriz Nathalia Brambila, teria o papel de candidata sem deficiência, num resgate dos episódios vividos pela própria Andreia, só que agora às avessas. Áudio e vídeo foram gravados em estúdio, numa composição com mesa e cadeira, a fim de simular o ambiente frio dos escritórios de seleção.

TEXTO CURATORIAL

Em uma experiência audiovisual interativa, o convite é para sentir a indignação de como é o acesso das pessoas com deficiência visual ao mercado de trabalho.

A crítica está colocada em um experimento artístico às avessas.

A dificuldade de exercer as tarefas está no visitante? Na artista?
Ou nas ferramentas que não têm acessibilidade?

Créditos: 
Felipe Dutra – captação e edição de vídeo
Natalia Brambila – interpretação,
Roberto Candido – captação de áudio 
Polinho Mota – facilitação

O foco, o olhar, a boca, os silêncios, o constrangimento, a violência… Cada elemento trazia um aspecto que apresentaria a realidade das PCDs na busca por ingressar no mercado de trabalho. Era a arte hackeando a vida. 

O vídeo foi exibido em looping na exposição, apoiado também por um ambiente que remetia às salas de entrevista de emprego. Numa mesa espalhamos papéis A4 com um dos dados Caged, à semelhança daqueles muitos documentos acumulados e esquecidos à mesa dos empregadores. Os materiais estavam escritos à tinta e em braille e dispostos à leitura ao público da exposição. 

Legenda Oculta, obra de Tais Victa

TEXTO CURATORIAL

Se não tenho voz, eu não existo
Falar bem, ouvir bem, escrever bem foram ações associadas à capacidade de evolução humana no mundo ocidental, garantindo a quem as domina melhor circulação na sociedade e acesso a funções importantes. 

Os hábitos capacitistas ainda ditam as regras do mundo trabalhista contemporâneo, mas a invisibilidade vai muito além da deficiência. À medida que raça, gênero e deficiência se conectam, aumenta o silenciamento das potencialidades, existências e desejos dessas pessoas. 

Após anos de luta por direitos trabalhistas que atendam às reais necessidades destes grupos, para as mulheres com deficiência auditiva, ainda se faz necessário ler o oculto, o ignorado, o que ninguém está escutando. 

Abra a legenda: O que esse retrato tem a dizer? Créditos: 
Fotografia: Inna Vico
Artista Residente: Taís Victa
Facilitação e Edição: Messias

A ideia da instalação “Legenda Oculta” partiu de um desejo de Taís, mulher branca com deficiência auditiva, de trabalhar com pintura e escrita, com uma linguagem mais moderna que utilizasse palavras-chave, recortes, numa estética entre desenho e fontes tipográficas. Pensando o texto,  a escritora e pesquisadora lembrou do principal recurso de acessibilidade que usa no dia a dia como uma pessoa surda oralizada, que é o Closed Caption, as legendas ocultas, muito úteis para descrever efeitos sonoros e falas em filmes e programas de TV.

Taís escolheu unir a fotografia e os dados para apresentar o silenciamento das pessoas surdas e de como ele é ainda maior entre mulheres negras surdas. As legendas ocultas deveriam, então, escancarar esse silenciamento, gritar sobre a invisibilidade por trás dos rostos que o mercado de trabalho ignora, principalmente quando esses rostos têm na comunicação seus maiores entraves de acesso, além de outros fatores sociais como raça e gênero. 

A instalação Legenda Oculta é composta por quatro fotografias – uma mulher negra, um homem negro, um homem branco e uma mulher branca, a própria Taís. Cada foto traz os dados do Cadastro Geral dos Empregados (Caged) relacionados a cada perfil na boca dos personagens, como um protesto silencioso.

As imagens dos outros personagens foram selecionadas de bancos de imagem gratuitos, visto que nenhuma pessoa da equipe da residência conhecia pessoas com deficiência auditiva ativas no mercado de trabalho formal. Junto aos dados, adicionamos trechos de “Certas coisas”, de Lulu Santos, uma composição que brinca com silêncios, luz e sons, numa sinfonia contraditória, mas, ao mesmo tempo, viva e ressonante. 

A instalação ainda contava com algumas referências ao cotidiano de pessoas surdas. Nos deslocamentos urbanos, os sinais são mais sonoros do que visuais, as estações não estão nomeadas corretamente, os sinais de parada luminosos dos ônibus ou do metrô estão frequentemente danificados, o que redobra a dificuldade de acesso e orientações de milhares de pessoas com deficiência auditiva. Assim, disponibilizamos tampões de ouvido feitos de espuma, que os visitantes deveriam colocar no ouvido para vivenciar a realidade sensorial da deficiência. 

Outra referência foi a lâmpada estrobo, que é utilizada em residências e algumas fachadas comerciais. Nas moradias de pessoas com deficiência auditiva, ela substitui as campainhas e interfones sonoros. 

“Na instalação desejei que soasse mais como um chamado à atenção para a realidade dos dados e perfis e tivesse uma mensagem importante que é justamente lembrar da triste ironia que nós não somos os “desatentos”, nós ainda somos as silenciadas e os silenciados, os dados ignorados no mercado de trabalho, na locomoção, pela comunicação”. 

Taís Victa, artista autora da instalação Legenda Oculta

“Achei muito legal facilitar a criação da obra da Taís que diz sobre o silenciamento e apagamento de pessoas com deficiência auditiva. Ela teve a brisa de usar o Closed Caption (legenda oculta), uma ferramenta de acessibilidade para pessoas com deficiência auditiva que tem em TODA televisão e coisas de audiovisual. Além de ter as falas, a legenda oculta também descreve sons importantes para a narrativa como gritos, trilha sonora e até o silêncio. Depois tu testa, é aquele botão [cc] que tem no controle.”

Messias, designer do data_labe e facilitador da obra de Taís Victa

Ao Corpo, obra de Larissa Ferreira

A dupla Larissa e Noel tinha um sonho: fazer acontecer uma vídeo-instalação de dança projetada em tecido, uma caixa de luz com esculturas de argila, uma ambientação que fosse imersiva e permitisse a experimentação. Para isso, uniram seus conhecimentos artísticos em dança e produção cultural, por parte da Larissa, e em artes plásticas e design, por parte do Noel, que é Diretor de Arte do data_labe.

 O corpo dançante da Larissa era o protagonista do vídeo, então a dupla definiu figurino,  elementos de cena e contratou a coreógrafa Kley Hudson para ensaiar e dirigir a gravação. Para a instalação do vídeo, Larissa e Noel testaram a projeção de imagem em três tipos de tecidos translúcidos e escolheu um microtule branco para dar sensação de movimento ao vídeo.

A caixa de luz foi projetada e feita pelo Noel com uma masseira para pedreiro e pintada com tinta spray. Dentro da caixa, os artistas instalaram uma luz de led branca e tamparam o objeto com uma superfície de vidro temperado.

Larissa fez uma montagem com os exames de raio-x realizados ao longo de muitas e muitas consultas médicas e o dado sobre a ausência do ramo artístico nas categorias de trabalho encontradas na análise do Cadastro Geral de Empregados (Caged) [Falamos sobre esta base de dados no capítulo 4]. 

Sobre a tampa da caixa, a dupla instalou esculturas de argila que representassem a estrutura óssea da Larissa, para que o público pudesse tocar e experimentar seu corpo. Larissa produziu as obras com a orientação do Noel sobre modelagem, a fim de que as esculturas não quebrassem com o toque e estivessem secas até o dia da exposição.

Para que a experimentação imersiva fosse possível, a instalação ficou em uma sala do Galpão Bela Maré, iluminada somente pela projeção do vídeo e pela caixa de luz com as esculturas.

 Na entrada da instalação, o público tinha acesso ao texto curatorial da obra e era orientado pela equipe de mediação a entrar no ambiente sem calçados. No chão havia flores de arruda e margaridas, que exalavam um forte aroma. Pegadas feitas em EVA convidavam o público à dança, enquanto as caixas de som pulsavam o batuque do áudio do vídeo, projetado ao fundo da sala.

TEXTO CURATORIAL

Ao corpo
A qual corpo as possibilidades são permitidas? A qual corpo é permitido o balanço, o encanto, o compasso, o ritmo, o swing, a musicalidade, o groove e o jazz?

Sempre soube que meu corpo era possível, porque sempre senti meu corpo artístico-dançante, propenso e entregue à arte. Dançar envolve toque, gesto, troca, confiança, olho no olho e, acima de tudo, possibilidades de experimentação à dança.

E caso haja dúvidas do swing, deixo meu convite à experiência ao toque, à sua maneira.

EU EXISTO!

Créditos: 
Coreografia e direção artística: Kley Hudson
Captador e editor de vídeo: Felipe Dutra
Produção: Stefany Silva e Raysa Castro
Artista Residente: Larissa Ferreira
Facilitação: Nícolas Noel

Como acessibilizamos a experimentação da exposição

“Não foi um processo fácil, mas a gente se questionava sobre como garantir que diferentes corpos tivessem acesso à experimentação das obras de arte. O que torna a arte acessível é o conjunto de sensações que ela pode despertar para além do visual. Sentir a arte é poder experimentá-la, é sentir que compomos a obra pelas diversas formas que podemos acessá-la na nossa diferença. A experimentação é sobre acionar meios de sentir que façam as pessoas se conectarem com a arte pelo que ela produz de afetações na gente”.

Gaby Kruger, facilitadora da residência

A facilitação busca fazer com que todas as pessoas consigam desfrutar de uma exposição artística, seja com os olhos, ouvidos, com partes do corpo ou com os recursos que cada um tiver disponíveis. Não é preciso descrever todos os detalhes do ambiente ou da obra de arte, pois pessoas sem deficiência também não recebem todas as informações e histórias ao entrarem em um espaço de arte. O importante é garantir que as pessoas sejam contextualizadas e se sintam inseridas, pois, assim, elas conseguirão experimentar a arte à sua maneiro e tirar suas próprias conclusões.

Partindo desse princípio, elaboramos um roteiro de facilitação e definimos uma equipe para acompanhar os grupos de visitantes. As duplas Polinho e Messias e Gaby e Noel trabalharam cada uma num turno de uma hora e meia, acompanhadas por intérpretes de Libras.

Lembrete!

>>> Acessibilidade não é exclusiva para as pessoas
com deficiência. Numa exposição você pode receber:

>>> Pessoas que não sabem ler;

>>> Crianças, pessoas idosas ou estrangeiras;

>>> Pessoas que nunca entraram num museu;

>>> Pessoas que acham que não entendem de arte e
que, por isso, não podem consumi-la.

Protocolo da facilitação

Se apresente e se descreva:
Diga seu gênero, raça/cor e sua roupa.

Descreva o espaço e explique a proposta da exposição

Pergunte se alguém do grupo é uma pessoa com
deficiência. Caso haja, verifique se ela precisa que
a facilitação aconteça em Libras.

“E no dia 13 de outubro de 2023, expus com toda pompa. Mesmo na periferia e só com aquela tarde tivemos um grande público e uma visibilidade que não esperávamos,  a ponto de colegas do meu curso irem me entrevistar e documentar aquele momento. Também dei entrevista para o Alma Preta. Tudo isso só me fez concluir que essa residência não foi algo banal, mas sim o contrário: mostra o que estava escondido, o meu talento para criar instalações e que eu quero cada vez mais me inserir nesse mundo”.

Andreia Meireles, residente

Ao final do circuito das três instalações, a dupla de facilitadores perguntava às pessoas visitantes como tinha sido a experiência de sentirem os dados, de conhecerem outras realidades e possibilidades. A exposição se encerrou com uma roda de conversa com as três artistas, que explicaram o processo de criação, sua experiência como artistas com deficiência e a oportunidade de falar sobre dados através da arte. 

Todo mês uma seleção braba de conteúdos sobre dados, tecnologias, favelas e direitos humanos.

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