dados sobre pcd’s
no mercado de trabalho

Mas afinal, o que é capacitismo?

O capacitismo é a discriminação contra pessoas com deficiência, isto é, uma sociedade capacitisma pressupõe que a PCD não é capaz de fazer o que se espera de uma pessoa sem deficiência. Dados do IBGE apontam que 45 milhões de brasileiros – cerca de 24% da população do país – têm algum tipo de deficiência. 
Este preconceito prejudica o acesso a direitos assim como o racismo, o machismo, a LGBTfobia, embora ainda tenha menos visibilidade na opinião pública. O capacitismo impacta as pessoas com deficiência somado também a estas violências, no que chamamos de interseccionalidade.

“Eu, mulher com deficiência (surda oralizada) não cresci com conhecimento sobre direitos de pessoas com deficiência, as políticas sociais de fato. Estudei em escolas regulares com muitas dificuldades porque não sabiam lidar com a diversidade da minha surdez de nascença, que me permite fazer leitura labial e falar português. Só fui entender melhor as questões dos movimentos e lutas sociais das pessoas com deficiência quando fui estudar direitos e políticas públicas para mulheres, onde me vi completamente “esquecida” na minha condição de mulher com deficiência. Este fato virou uma chave sobre a questão da minha própria trajetória, os acessos, as comunicações e as relações em geral. Ainda não vejo interseccionalidade eficiente nos dois movimentos.”

Taís Victa, residente

Acreditamos que entrelaçar as diferenças, promovendo a conexão entre corpos diversos, seja o caminho para compreender e mitigar o capacitismo. Isso exige, é claro, atenção à pluralidade da realidade das PCDs, já que cada pessoa demanda diferentes perspectivas de acessibilidade. Nossa estratégia de acessibilizar a residência foi trazer os dados sobre pessoas com deficiência como fio condutor para apresentar as semelhanças e diferenças destes corpos e ampliar a percepção de que a acessibilidade precisa ser plural.

“Hoje só consigo ficar sentindo que arte é acessibilidade e que acessibilidade é interseccional porque todos os corpos conseguem acessar a informação a ser passada pelas percepções da deficiência.”

Gaby Kruger, facilitadora

O que dizem os dados sobre PCDs e mercado de trabalho

É o que contam os dados de 2019 do Cadastro Geral dos Empregados, o Caged, uma base de dados que informa o fluxo de trabalhadores com carteira assinada. Selecionamos o Caged porque queríamos investigar o acesso ou a falta de acesso das PCDs ao mercado de trabalho formal.

O passo a passo da análise de dados

Utilizamos o jupyter notebook para realizar o processo de limpeza e transformação dos dados, com scripts em linguagem python. Estas linguagens e métodos são indicados para quem quer trabalhar com grande volume de dados de forma colaborativa, pois garantem agilidade, transparência e integração das pessoas nos processos dos dados.

 

Fizemos uma consulta em linguagem SQL, que basicamente é uma forma de programação para grandes bases de dados. Nela, selecionamos apenas os registros dos trabalhadores cadastrados no ano de 2019 e encontramos 30.865.840 trabalhadores cadastrados.

 

Extraímos os dados a partir do site basedosdados.org, que faz um excelente trabalho ao limpar e disponibilizar centenas de bases de dados públicas do Brasil.

 

 Logo no início da análise, nos deparamos com alguns dados sem preenchimento. As análises de dados de bases oficiais no Brasil são sempre bem trabalhosas, porque temos um país gigantesco com desigualdades muito diversas. Isso faz com que os profissionais envolvidos no preenchimento dos dados nem sempre tenham todas, ou as mesmas, condições necessárias para fazerem um trabalho com o mínimo de falha possível, ou seja, a qualidade dos dados pode ser influenciada por circunstâncias diversas, desde a tomada da informação no atendimento até mesmo na forma de como esses processos são computados e disponibilizados. Se liga nas informações não preenchidas que impactaram nosso trabalho de análise:

Excluímos esses dados, pois a nossa pesquisa se propunha a considerar como variáveis principais raça/cor e renda de pessoas economicamente ativas (16 a 65 anos de idade). Assim, chegamos a 25.716.831 de trabalhadores registrados, sendo apenas 205.101 pessoas  com deficiência. 

Analisamos a quantidade de pessoas empregadas por estados do Brasil, diferenças de pessoas cadastradas por gênero, raça, faixa etária, escolaridade, distribuição nos meses do ano e faixa salarial. Para entender o cenário entre as PCDs, repetimos essas análises e verificamos quais os tipos de deficiência registradas. 

Nossa estagiária de dados, Andreia Matos, que foi quem realizou as análises, também apresentou os números à turma. 

Recursos de mais, acessibilidade de menos

À medida que Andreia explicava os achados da análise, as residentes sugeriam melhorias à forma de comunicar os dados. Em uma das visualizações, trouxemos um gráfico interativo que apresentava os dados de gênero, raça e tipo de deficiência a partir de toques na tela ou pelo mouse em bolhas plotadas. Contudo, apesar de parecer um grande recurso tecnológico, que abre, expande, compara e tudo mais, o gráfico não era acessível para a maioria das pessoas presentes. 

Ao final da apresentação, a facilitadora Gaby Dutra fez algumas perguntas disparadoras: 

  • “O que essa apresentação dos dados do CAGED nos fez perceber e sentir?
  • Qual é o nosso lugar nessa representação e como nos afeta?”

“Pensei o quanto esse debate sobre informação acessível nunca teve a devida proporção e relevância dentro da faculdade que eu cursei e o impacto gigantesco que a ausência dessa formação de comunicadores têm na sociedade, enquanto profissionais e para a contribuição de um ‘bem’ público.”

Larissa Ferreira, residente

“Chamou minha atenção a dinamização dos gráficos e de como essa dinamização pode ser diferente e mais complicada para interpretar para uma pessoa com deficiência visual. Andréia (colega residente) sugeriu várias propostas, e isso foi bacana. A maior questão, entretanto, foi a surpresa do último gráfico, que nos revelou que as desigualdades também são surrupiadas nas estatísticas e é bem no meio do processo que elas se revelam.”

Taís Victa, residente

 Gráficos acessíveis:
As dicas de ouro da Andreia

>>> Esqueça o formato de pizza para mais de duas variáveis, pois o excesso de fatias dificulta a diferenciação. Para esses casos, prefira um gráfico de barras verticais.

>>> Gráficos com muitas subdivisões e que têm legendas fora da imagem são muito difíceis de serem compreendidos. Em geral, evite o uso de legendas e concentre as informações na própria imagem ou nos títulos.

>>> Elabore um gráfico geral com os dados que você quer contar. Depois, faça outros gráficos com as subdivisões, um por vez, e cada um deles com um título que explique do que se trata. Menos é mais!

>>> Se você precisar muito de uma legenda, coloque na parte inferior. Se ela for descritiva, opte por inseri-la à esquerda.

>>> Utilize texto explicativo (audiodescrição) para cada gráfico

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